quarta-feira, 27 de agosto de 2014

GENARO, O TRIPEIRO

Como sabem a Tijuca é um bairro que preza pela tradição e o comércio local é um bom exemplo disso. Passeando pelas ruas tijucanas, sim, na Tijuca se passeia, tenho a sensação de que ainda não estou em 2014, época de tanta parafernalha tecnológica. Alfaiates, antigas lojas de roupas, armarinhos, vassoureiro, barbearias, óticas, loja de doces, são tipos de comércio que estão há décadas no mesmo lugar e moldam a Tijuca que resiste e freia o tempo.

Hoje pela manhã fui ao Largo da Segunda-Feira e bati um papo rápido com um destes comerciantes que fazem o bairro ser singular. Falo do Seu Genaro, o tripeiro, onde aproveitei e comprei o fígado fresco que estava querendo.

Segue o bate-papo:

Torreira: Há quanto tempo o senhor está aqui na esquina da rua Aguiar com Conde de Bonfim?
Seu Genaro : Há mais de vinte anos.

Torreira: O senhor é o último tripeiro da Tijuca?
Seu Genaro: A Tijuca é grande, mas pelo menos mais um eu sei que tem. Ele fica lá na Carmela Dutra, ali perto da "Mesbla".

Torreira: O que o senhor tem pra vender?
Seu Genaro: Hoje eu tenho fígado, rabada, língua, bucho, rim, linguiça e bofe.

Torreira: E essa tradicional bicicleta com a caçamba?
Seu Genaro: A caçamba é antiga, a bicicleta nem tanto. Antiga mesmo é minha licença de tripeiro, tem sessenta anos.

Torreira: O senhor fica aqui o dia inteiro?
Seu Genaro: Fico pela manhã, minha mercadoria é fresca e por isso vou embora por volta das 13 horas.

Torreira: E como é sua freguesia?
Seu Genaro: A maioria mora por aqui e compra há anos, gente fiel que prefere comprar comigo do que em mercados grandes. Tem gente que não mora por aqui, mas trabalha, que compra também.

Torreira: Pensa em largar o ramo por se tratar de um comércio antiquado?
Seu Genaro: Não. Como lhe falei tenho meus fregueses aqui e me sinto bem no bairro. Esta é uma boa esquina.


Seu Genaro e seu comércio

Detalhe na mercadoria


Está aí mais uma prova da simplicidade de um bairro que vive o presente com os pés na tradição. Nada enfraquece seu cotidiano e quem vive aqui não quer sair. Salve a Tijuca.

Até.

Um comentário:

Unknown disse...

Hoje, não sei como nem porque estava dedilhando o celular quando me apareceu a foto do Instituto La-Fayette, no seu blog Pileque. Li o seu texto,gostei, a saudade chegou e comecei a recordar meus tempos de La-Fayette. Estudei alí de 1945, quando entrei para o quarto ano primário com 10 anos, e terminei o ginásio em 1950. Tenho muitos casos para contar e um dos meus grandes desejos é visitar as instalações da unica sede que restou, a da Haddock Lobo e ver como foi feita a conservação que devemos à Fundação Bradesco.
Vejo que voce é um tijucano e eu também sou tijucano de coração. Embora tenha me mudado há bastante tempo ainda mantenho vivas as minhas recordações de infância e juventude e depois, na idade madura. Ainda hoje pego o metrô, salto em qualquer estação e começo a caminhar pelas minhas velhas conhecidas ruas da Tijuca, Andaraí, Estácio, Rio Comprido. Um abraço.
Vou continuar visitando seu blog. Parabéns.