domingo, 9 de dezembro de 2007

BAR DO MARQUINHOS

Há um mês atrás, dei uma sumida da cidade maravilhosa para descansar a cabeça, e fui parar em Conservatória, conhecida como cidade da seresta. O interessante lugarejo possui apenas duas ruas, e em quase todos seus casarios antigos podemos escutar boa música. Lá existem os museus do Guilherme de Brito, Silvio Caldas, Nelson Gonçalves, Gilberto Alves, e Vicente Celestino. Dizem que é um lugar para velhos, mas discordo fervorosamente. A seresta come solta até altas horas da madrugada com belas canções, e logo cedo o som já está acontecendo nas praças.

Bom, procurava um lugar para comer e beber, e o destino me levou para onde realmente deveria ir. O bar na verdade se chama Família Buscapé, pois é tocado pelo Marcos, sua esposa, e filhas, mas todos conhecem o local como Bar do Marquinhos.

Logo que entrei, fui recebido como um freguês secular da casa pelo Marquinhos. O cara é um boa praça daqueles, um piadista, um verdadeiro camarada de botequim. Comi um sanduiche covarde de pão com linguiça mineira e queijo, e para beber, cerveja mofada. Mas o detalhe da casa é a cachaça artesanal, que o Marcos fabrica em seu alambique. O nome dela? Tombo, cachaça Tombo.





Quando devorava a iguaria, ele percebeu que eu olhava curioso para o garrafão em cima do balcão, e sem me perguntar, colocou uma farta dose na mesa e disse:

- Mata logo a curiosidade, e sem medo, é a melhor da região.

Como desceu bem a danada, várias outras doses foram ingeridas durante minha curta estadia.

Comentei-lhe que gostava muito da cachaça Palmelinha (veja aqui), de Varginha-MG, e que voltaria ainda neste ano para levar-lhe uma garrafa. E ele:

- Só acredito vendo, o ano já está acabando, mas se trouxer no próximo também aceito.

Pois bem, estou escrevendo este texto recém chegado de lá, passei este fim de semana em Conservatória. Cheguei sábado bem cedo, larguei minha mochila na pousada do Seu Nilson, outro gente fina, e fui em direção ao Bar do Maquinhos com a Palmelinha na mão. Ele estava na porta do estabelecimento e vez alvoroço ao me ver, mesmo estando ainda um pouco longe do boteco.

- Tu voltou mesmo, pensei que fosse lorota...

- Toma aqui o que te prometi...

Virou festa! Como o fato de um homem honrar a palavra, mesmo com uma coisa simples dessa, faz o outro feliz. O cidadão não me deixou pagar nada no almoço, colocou Tombo na mesa, e ficou contando o fato e mostrando a garrafa para todos seus velhos amigos como se fosse um menino.

Voltei à noite, e antes que colocasse a branquinha na mesa, intervi:

- Não sei se bebo, ando meio resfriado...

Respondeu de bate-pronto:

- Não esquenta meu nobre, aqui tem remédio também, guenta dois minutos que já preparo.

Mais uma vez me deixava curioso, mas no tempo prometido vinha ele com um copo largo de uísque, e uma bebida amarelada dentro:

- Bebe que melhora, é limão, mel da casa, e Tombo! Sempre sirvo aqui!

E não mentia o chistoso, não deram nem dez minutos e veio um cara suplicar pela tal cura. Bebi dois copos de um dos remédios mais saborosos que tive que tomar.





Hoje pela tarde, antes de voltar para o Rio, fui me despedir e aproveitei para comer os deliciosos pastéis que faz sua mulher, e quando levantava-me para o abraço final veio ele novamente:

- Felipe, espera um pouco que vou te dar um negócio.

E em menos de cinco minutos volta com uma garrafa na mão, e berrando diante do balcão:

- Toma, leva um litro de Tombo de presente, bebe com a tua rapaziada, e volte quando quiser meu chapa, aqui as portas sempre estarão abertas.

Voltei feliz da vida, e com a certeza de que amizade de botequim é fiel como relógio suíço.

Até

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

VIDA LONGA AO BICO DOCE

Caros amigos, depois de um tempo afastado deste espaço por circunstâncias da vida, volto com uma boa notícia. Anunciei aqui, no mês de setembro, o fechamento das portas da minha querida uisqueria Bico Doce, e ontem, depois de uma conversa por telefone com meu camarada Fernando, fiquei sabendo de sua reabertura.

A casa reabriu em novo local, quase ao lado do anterior. Antes, localizava-se no Beco das Cancelas, e agora, na rua do Rosário esquina com Cancelas.

Como sabem os mais chegados, o fechamento aconteceu por problemas financeiros, mas a pressão dos fregueses foi tão grande, que o Cabral resolveu reabrir o segundo mais antigo bar do Rio de Janeiro onde funcionava sua gráfica, pelo menos enquanto acaba de resolver as pendências do lugar original.

Bom, como podem perceber, as coisas ainda estão se ajustando, mas o importante é que o pessoal da confraria está de volta para saborear um bom uísque na noite no centro da cidade.

Salve o Bico Doce.

Até.