quinta-feira, 31 de julho de 2008

BAR SANTO ANTÔNIO

Caros, acabo de voltar do bar mais imundo e ao mesmo tempo mais bonito que já pisei. Chego em casa com a alma lavada.

O trabalho, que implica com meus nervos, fez com que eu tomasse rumo ao mais obscuro buraco etílico das redondezas.

O bar Santo Antônio fica na rua dos Inválidos, perto do Instituto Médico Legal e da igreja de santo Antônio, centro do Rio. Muitas pessoas, que acabam de perder seus parentes e amigos, saem do IML para afogar as mágoas ali.

Andava pensando no futuro incerto pelas ruas da cidade, quando dei de cara com este boteco, e nele estava meu camarada Ribamar. Ribamar é parceiro meu desde os primórdios de Armazém Senado. Ele toca violão, e estava se apresentando para os ébrios do local. Levava de Roberto Carlos à Nelson Gonçalves, praticamente uma fábrica de fazer chorar. Entrei no bar, puxei uma Brahma, e acompanhei aquele momento maravilhoso e único. Gente solitária e acompanhada habitava o local, cada uma do seu jeito.

Iniciei uma prosa com seu "Tasáfo" (apelido do caboclo), reformado da marinha, e com o seu Soares, morador do centro.

Seu Tasáfo é um baiano gente finíssima, e me admirou por ser novato e já gostar de acompanhar o cotidiano do povo. Disse-me o seguinte recado:

- Enquanto as pessoas compram no shopping agora, nós levamos nossa vida por aqui.

Matou a pau.

Seu Soares estava triste pra danado debruçado no balcão, não sei o que pensava, mas logo alegrou-se quando falamos de futebol. Ficou feliz por que sou América igual a ele, e a conversa rendeu bem.

Quando menos percebi estávamos todos no pé-sujo conversando juntos sobre o mesmo assunto, um tentando ajudar o outro, e com a trilha sonora sofrida do Ribamar.

Cerveja geladíssima, ovo cozido, e carne assada. Não é preciso de mais nada, é o que há no local.

E quando me despedia...

- Pelamordedeus, fica!

Foi o que disseram aqueles sinceros homens quando deixava o local, como se eu fosse um amigo querido de todos os dias.

Todas as regras de bar foram feitas, inclusive a saideira da saideira. Choramos e gargalhamos juntos. Como disse no início, saí de alma lavada em mais um dia de afeto com o povo. Agradeço simplesmente por fazer parte dele, e sou completamente feliz por isso.

Para acabar, falta dizer que o dono do botequim, o seu Davi, é América, e acredita na volta por cima.

Ganhei o dia!















Ébrio solitário.







Seu Tasáfo



Seu Soares e sua tristeza.


Até.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

BOM AMIGO

Bom Amigo é o nome do simpático boteco do seu Celso, na esquina das ruas do Resende com Gomes Freire, no bairro da Lapa. Passei parte desta noite de segunda-feira por lá, e percebi que este nome realmente lhe cai bem.

Seu Celso é um potiguar que trabalha atrás deste balcão há exatos vinte e cinco anos. Ele era funcionário da casa, e depois que soube que o antigo patrão venderia o pé-sujo, juntou os trocados e comprou o local. Sábia decisão.

Brahma, Antártica, Skol, Itaipava, e Serra Malta, são as cervejas claras da casa. Degustei uma geladíssima Brahma. Caracu, Malzbier, e Black Princess são as morenas que completam a carta de geladas. Uma imagem de São Jorge na parede é rodeada pelas inúmeras bebidas quentes, estão ali para dar água na boca nos apreciadores de cada dia. Caldo de mocotó, ovo de codorna, e porção de carne assada, fazem parte das iguarias do bar.

Seu Celso conversava com um senhor de origem japonesa, que jantava um angu, como se ele fosse local. Falavam sobre a tal da lei seca. Sabe como é botequim, quando menos esperamos já estamos na conversa. E lá fui eu. Depois de vinte minutos de prosa, seu Okimura, este é o nome deste senhor, revelou-me que come todas as noites ali para assistir o telejornal com o seu Celso. Disse-me que é viúvo e mora sozinho, e seu parentes vivem em Volta Redonda.

- É muito ruim ver televisão sozinho em casa.

Confessou-nos naquele boteco, este solitário homem oriental. Lembrei-me imediatamente de meu camarada paulista Szegeri, que escreveu dia desses sobre a solidão do boêmio (leia aqui o texto "Ai de nós!"). Por isso, creio eu, o nome BOM AMIGO está bem escrito no letreiro empoeirado do recinto.

Vale dizer também que até às 18 horas, hora da Ave-Maria, a badalação do pé-sujo fica por conta das ondas da rádio AM. Depois entram os telejornais, para a alegria do seu Okimura.









Seu Celso



Seu Okimura - ao centro - assistindo o telejornal.



Outro solitário de balcão.


obs: Peço desculpas pela qualidade das fotos, foram feitas pelo telefone celular. E telefone é feito pra se falar, não pra se fotografar.

Até.

domingo, 13 de julho de 2008

BAR DO SEU ROBERTO

Ontem às sete da manhã já estava pegando a barca junto com minha bicicleta para fazer um passeio até a linda Fortaleza de Santa Cruz. Já perdi as contas de quantas vezes percorri este caminho sobre duas rodas, tanto sozinho como com os amigos. Neste agradável passeio existe uma obrigatoriedade, que é parar no bar do seu Roberto para um calibre ao retornar da Fortaleza.

Seu Roberto é um português de 62 anos, que desde 1978 está comandando o Bar Flor de Jurujuba, em Jurujuba, é claro. Lugar agradabilíssimo, com uma vista muito bacana, botequim daqueles que ficamos com preguiça de tirar a bunda da cadeira para ir embora. Atendimento de primeira, cerveja sempre mofada, e um sanduíche de queijo minas que é sacanagem. O boteco fica exatamente ao lado da igrejinha de Jurujuba.

Ontem tive a oportunidade de reencontrar um freguês ilustre da casa, o seu Ubaldino. Foram poucas as vezes em que passei pelo bar e este nobre homem estava ausente, ele é patrimônio do local. Puxando uma prosa com ele fiquei sabendo que além de ser fã de conhaque (vide foto), o seu Ubaldino toca flauta e cavaquinho às sextas numa roda de samba dos coroas da redondeza, ali mesmo, no seu Roberto. Com a elegância de um lorde, convidou-me para vê-lo tocar dia desses, eu agradeci, e depois de trocarmos mais uns dez minutos de conversa me despedi.



Seu Ubaldino e seu conhaque


Mais um freguês apreciando local


carta de cervejas


Hélio, Fraga, e Digão


outras bebidas


vista

O Bar do seu Roberto é assim, você chega na primeira vez e tem a sensação de que é frequentador há décadas. Sempre somos bem recebidos.

Quando passarem por aquelas bandas lembrem-se que o Flor de Jurujuba é parada obrigatória para um calibre de qualidade e uma prosa da boa.

Até.