quarta-feira, 27 de maio de 2009

UMA TARDE EM MARECHAL HERMES

Estive no último domingo em Marechal Hermes. Um amigo meu que mora no bairro vive me falando do Bar do seu Zé, e jura que é reduto de torcedores do América. Tive que conferir. Peguei o trem na Central do Brasil, e em 25 minutos estava na estação de Marechal, que na minha opinião é a mais bonita de todas. Entrei na rua Cabrália, e em poucos instantes já pousava meu cotovelo no balcão.

Cada vez que vou para o subúrbio tenho a certeza de que terei um grande dia. As pessoas são acolhedoras demais, te levam pra dentro de suas casas, contam suas intimidades como se você fosse um irmão... Fazem a vida valer a pena sem dinheiro, sem "olho grande", sem ganância. Uma tarde bonita com os amigos no bar não tem preço, e é uma das poucas coisas que levamos de bom nessa vida. Esse é o pensamento do suburbano, do tijucano, do morador da zona norte. Difícil alguém fugir da regra, até porque não faz sentido se descabelar por dinheiro, pois caixão não tem gaveta.

Fui apresentado aos senhores do local, que com muita elegância me receberam. Barrigas enormes à mostra, pés, que mais pareciam cascos, na sua maioria pisavam descalços no chão sofrido, arrotos eram distribuídos com abundância, e juntamente com gargalhadas altíssimas formavam a orquestra da casa.

Um homem que bebia sua cerveja na caneca do América chamou-me a atenção. Puxei uma prosa, que cinco minutos depois virou festa. Sentei-me à mesa com Gilmar, este é o nome do caboclo, que começou a cantar o hino rubro de forma doentia, aos brados. Mostrou-me sua carteirinha de sócio remido e outra carteira de fundador da torcida inferno rubro. Derrubamos umas geladas com a companhia de Givaldo, seu amigo botafoguense, e seu cunhado Geraldo. O churrasquinho comia solto na porta do boteco, e em certa hora percebi que já fazia parte do local. O subúrbio é assim mesmo.

Gilmar pediu licença para se ausentar um instante, saiu do bar, entrou num opala marrom, e partiu. Em quinze minutos estava de volta, com um largo sorriso na cara e uma sacola na mão. Aproximou-se de mim e disse:

- Toma. É o "kit" do América.

Agradeci, muito surpreso, enquanto tirava as coisas de dentro da sacola. Era um cd, uma bandeira, um calendário e uma camisa da Inferno Rubro. Imaginem como foi depois... Uma cervejada daquelas.

O bar do seu Zé é alegre, definitivamente não é um reduto para os boêmios que querem curtir uma fossa. Tem uns petiscos de saquinho, como azeitona e tremoços, e alguns frios. Bebida é o forte da casa, tem até água-raz.

Fiquei até o filho do seu Zé fechar as portas, e fui convidado para um evento chamado chapéu de palha, que vai acontecer no próximo sábado. Trata-se de um samba feito pela velha-guarda local dentro do bar. Toda a coroada, logicamente, usando seus chapéus, unidos mais um dia. Deve ser muito bacana, emocionante.

Fica aqui a dica.



Chegando em Marechal...



Prateleira com escudo rubro...


Os senhores do local...



...vivem a amizade no balcão.



A moda.



O São Jorge do bar.



Gilmar com a caneca de sua paixão...



Com a carteirinha...



E depois de me entregar alguns regalos.



Hora de ir embora.



Esperar o trem e ir pra casa feliz.



Até.