quinta-feira, 24 de maio de 2007

LUTEMOS PELO NOSSO

No passado dia 17 comemorou-se o dia das letras galegas, língua falada na região da Galicia, Espanha, que divide origem, características e histórias com o nosso português. Três importantes escritores e membros da Real Academia Galega, juntos de seus séquitos, declararam em 1963, que esta importante data fosse comemorada todos os anos. Manuel Gómez Román, Xurxo Ferro Couselo, e Francisco Fernandez del Riego escolheram este dia pois se tratava na época do centenário do "CANTARES GALLEGOS", livro que é até hoje considerado a obra maestra da literatura galega, escrito pela máxima Rosalía de Castro em 1863.

O meu poeta, escritor e desenhista galego preferido chama-se Castelao, nascido em 1886 em Rianxo. Formou-se em medicina, mas já garoto mostrava paixão pela arte, e desde então escrevia e fazia caricaturas para revistas locais. Nos anos 20, Castelao já era considerado um dos maiores defensores da arte galega. Entrou para a política para defender a cultura de seu povo, mas com a vitória de Franco na guerra civil espanhola de 1936, teve que exilar-se, e a língua galega foi proibida de ser falada na Espanha.

Os galegos foram sempre um dos povos mais sofridos da nação espanhola, por ter os campesinos como a maioria de sua população, e todo mundo sabe que esse pessoal não tem vez mesmo. Na época da ditadura franquista, viram suas já difíceis vidas piorarem cada vez mais, e seus costumes minguarem, já que o ensino nas escolas e os meios de comunicação somente usavam o castelhano como veículo de expressão. Quando a Editorial Galaxia foi fundada em 1950 a situação começou a mudar, pois foram resgatados e publicados vários livros com a língua galega. Castelao voltou para sua terra onde continuou lutando pela identidade da mesma até a hora de sua morte. Em 1983 o galego foi oficialmente declarado língua, deixando de ser um simples dialeto.

Meu falecido pai era imigrante deste lugar assim como meus tios, e todos passaram fome quando pequenos, mas conseguiram vencer unidos. Cansei de ver meu pai com os olhos cheios de lágrimas ao ouvir canções tradicionais galegas, já que em sua maioria as letras falam do banzo, "morriña" em galego, do sofrimento dos camponeses, e dos pescadores que vão ao mar e não voltam mais. Cresci absorvendo este sentimento e entendendo aos poucos porque aquilo emocionava meu velho, e me apaixonei por tudo isso. Morei uma época na Galicia para me aproximar do que pertencia somente ao meu imaginário, aprendi muita coisa, falo um galego fluente, e hoje sou eu que choro ao ouvir as velhas canções.

A nossa rica cultura brasileira também perdeu imensamente com esta ditadura filha da puta que tivemos, e muitos calaram-se contra vontade. E hoje também vivemos uma ditadura em que nossa plebe é obrigada a assistir merda atrás de merda na que chamo desgraça do mundo, a televisão. E como não temos educação neste país, somos facilmente doutrinados pelos grandes ditadores da mídia atual, vocês sabem de quem falo, a adorar o que não é nosso, até que um dia o verdadeiro nosso morrerá no esquecimento. Ainda tenho esperança que podemos reverter pelo menos um pouquinho esta situação, mas com força e grito, falando o que deve ser falado. Vestir-se de branco e dar um abraço na lagoa não adiantará porra nenhuma.

Lutemos pelo nosso folclore e cultura.

Viva a minha GALICIA e viva o meu BRASIL.


Deixo com vocês duas caricaturas em forma de protesto de meu querido Castelao.



lê-se: As sardiñas volverian se os gobernos quisesen


lê-se: Os esclavos do fisco.

2 comentários:

msalves disse...

Felipe,
conheci o blog através do buteco do edu e hoje vejo este triste mas belíssimo texto!! Mas ainda tenho esperança.
forte abraço
Marcelo Alves

Julinho disse...

Venceremos um dia meu caro, venceremos...