segunda-feira, 30 de março de 2009

BAR DO SEU LUIZ

Resolvi escolher um boteco, nunca antes pisado por mim, para beber na sexta-feira passada após o final de mais uma semana de batente. Optei por um que fica na rua Tadeu Kosciusko, no Bairro de Fátima, já que vou bastante por aquelas bandas e sempre namorava de longe este bar.

Logo que entrei parei num cantinho do balcão e pedi minha gelada. Três homens sozinhos bebiam dentro do local também, e mais uns cinco do lado de fora. O bar é minúsculo, por isso muita gente se acomoda na calçada mesmo, de pé, pois não há mesas. O seu Luiz, dono do estabelecimento, percebeu que eu olhava para as bebidas quentes da estante e foi logo me oferecendo a especialidade da casa, a cachaça Catarina. Desce rasgando um pouco, mas logo logo dá um jeito de acalmar nosso corpo. Muito boa. Na estufa, duas travessas de dar água na boca estavam à mostra, uma de galinha ensopada com batatas e outra de carne assada com batatas.

Não posso deixar de lembrar, que das caixas de som engorduradas de um rádio safado, saíam músicas da jovem guarda, somente da jovem guarda. Golden Boys, Renato e seus Blue Caps, Os Vips, Os incríveis, Pholhas, Wanderley Cardoso... Era uma atrás da outra. A clientela curtia as músicas a seu modo, e poucos eram os entusiasmados. Seu João, um senhor negro que estava num banquinho ao meu lado, era o que ariscava o nome das canções tentando se entrosar com a rapaziada. O resto do povo estava pensativo, com semblante preocupado e triste. Curtiam o som apenas com o mexer dos pés ou das mãos para acompanhar o ritmo.


Lá pela minha terceira garrafa de cerveja, cheguei a conclusão de que não estava num botequim, e sim numa espécie de hospital das almas. Vi claramente que os homens que ali bebiam tinham algum tipo de problema que os incomodava, por isso as caras lúgubres, as feições lastimosas. O Bar do seu Luiz é o que recanto perfeito para quem necessita se recolher com seus pensamentos em busca de alguma solução. O Bar do seu Luiz é a mais tranquila das casas para estes cidadãos, dando inveja até mesmo a igreja da esquina, já que a esmola que deveria ir para a sacolinha estava ficando no caixa do bar. Os verdadeiros fiéis necessitados de ajuda estavam ali, recebendo afeto, carinho, e cachaça de um pé-sujo. Esta é a verdadeira instituição do povo, onde se pode depositar todas as lamúrias sem receber loucas penitências.

Teve um coroa preto de bigode (parecia o Assis do Fluminense) que chegou lânguido, não conseguiu nem tirar a bolsa das costas. Lá pela quarta garrafa, quando parecia que iria morrer à beira do balcão, seu João, o coroa que estava atento no som, falou:

- Ei! Ô Bigode! Presta atenção na música... Quem canta essa? Hein? Hein?

E cantava na intenção de que o pobre ébrio melhorasse a cara...

- Co-nhe-ci um capeta em forma de guri. Co-nhe-ci um capeta em forma de guri... São os Incriveis! Dancei muito isso ali em Rocha Miranda.

Pela primeira vez eu vi os dentes do crioulo bigodudo, que bebeu mais uma, e partiu. Os outros fregueses estavam como ele no bar, e sei que depois de doses de companheirsmo no botequim voltaram para suas casas um pouco menos tristes, dando uma folga para os problemas cotidianos e deixando os devaneios em primeiro plano.

Viva o bar, a sucursal do nosso lar.



Fartura.



Comida honesta.



Especialidade da casa.



Mais fartura.



Seria a pintura do Nilton Bravo?



O bigodudo estilo Assis...



...estava pensativo, mas saiu mais feliz.



Seu João, o que animava a rapaziada.



Outro que estava só.



Mais um fiel de balcão.


Até.

4 comentários:

Barbarella. disse...

geniais as fotos. muito bom...hehehe beijo

leo boechat disse...

Felipex e sua viagem. Vamos agendar umas prospecções dessas?

Felipinho disse...

Vamos sim, Leo, você precisa conhecer este bar. Não é viagem não, é bacana mesmo, coisa do povo, lugar onde você se sente bem.

Anonymous disse...

Gostei disso! Ótimo!

Eis um bar que nunca disputará campeonatos de nada, pois bar que é bar mesmo não disputa campeonatos de nada.

Luiz.