sexta-feira, 2 de novembro de 2007

BAR DO SEU GERALDO

Neste dia de finados atípico, sem chuva, resolvi fazer uma visita a um velho amigo no bairro da Abolição, o seu Geraldo. Acordei cedo e bem disposto, já tendo certeza do meu destino. Estava precisando de um passeio pelo subúrbio, sentir a gentileza das pessoas, rever alguns amigos, beber umas com eles.

Seu Geraldo tem uma linda birosca numa tranquila rua na divisa dos bairros da Abolição e Pilares. Uma rua daquelas em extinção, em que os moradores colocam cadeiras nas calçadas e levam junto uma garrafa de café com um bolo ainda na forma só para passarem o dia conversando com os vizinhos, crianças correndo atrás de pipas, e os mais coroas levando as gaiolas com seus coleiros para pegarem um solzinho na porta do boteco. Todos falando com todos e com sorrisos largos na cara, prova de simplicidade e felicidade.




Chegando lá encontrei-me logo com o Toninho, 56 anos, o maior soltador de pipas da região, o cara é viciado. Leva um isopor cheio de cerveja para a laje e fica lá o dia inteiro, mas tem um problema, às vezes sua mulher perde a paciência e vem o grito:

- "Tuninho", desce logo homem, já te falei que a comida tá na mesa... Deixa de ser maluco!

Conheço este pessoal há uns quinze anos, pois o namorado da minha mãe mora por ali.

Aos 85 anos, seu Geraldo trabalha sozinho, puxa de uma perna, e está há 53 anos no mesmo lugar, sempre de jaleco branco e um pano nas costas. Tempos atrás sua falecida mulher dava o ar da graça com deliciosos petiscos que faziam a alegria do estômago do pessoal. A cerveja é geladíssima, tremoços e azeitonas de saquinho são os quitutes da casa, mineirinho e grapete de garrafa estão lá para as afortunadas crianças.

De vez em quando chega alguém com uma panela de comida, e hoje o seu Luis, dono do ferro velho ao lado, levou uma farofa de linguiça, uma tigela de molho à campanha, e uma bandeja de corações de galinha feitos no forno para acompanhar nossa cerva, uma oferta de sua senhora. Uns ficam no balcão, outros se acomodam na calçada, e os de sorte sentam no sofá, sim no sofá. A vizinha dele ia jogar fora um sofá de dois lugares ainda novo, então ele teve a brilhante idéia de colocá-lo do lado de fora do bar para a clientela.





Seu Geraldo deve ser uma das pessoas mais simples que conheço, e faz todo mundo rir com algumas manias. Podem acreditar, o coroa ainda tem aquelas cartelas com fichas de orelhão pra vender, ele diz que sempre pode aparecer alguém precisando, e até pouco tempo tinha um engradado com Malt 90 fechadas, mas foi convencido a se desfazer dele.



Sempre que vou ali fico feliz, me sinto bem, sou tratado como se fosse da área, e qualquer pessoa que aparecer por lá será tratada da mesma maneira. Estamos tão carentes de momentos simples assim, que chegamos a achar que certas coisas são impossíveis nos dias de hoje.

Até.

3 comentários:

Eduardo Goldenberg disse...

Belo momento do blog, Cereal!!!!! Salve a Abolição!

z� sergio disse...

Em que rua fica o boteco? Na Glaziou? Na Bas�lio da Gama? Na Ferreira Leite? Faaala Felipinho! N�o faz suspense, porra! Abra�o do Z� Sergio e salve a Aboli�o!!! Na pr�xima ida, pe�a ao seu Geraldo para lhe contar quem foi que matou o Pardal. Pouca gente sabe quem foi, o crime permanece insol�vel, nem a Agatha Christie, que esteve no local pesquisando, descobriu o autor. Mas o seu Geraldo tem toda a pinta de saber quem foi. Pergunta pra ele se o matador foi mesmo o corno violento da Rua Moreira ou se foi d�vida de jogo. Talvez ele lembre de detalhes pois aconteceu um dia desses. Se n�o me engano, foi em 1962.

Felipinho disse...

Grande Zé Sergio, quanto tempo velho! O bar do Seu Geraldo fica na Casemiro de Abreu. Deixa comigo que vou perguntá-lo sobre este caso. Quem sabe a resposta não está com ele?

Abração.