quarta-feira, 24 de março de 2010

MODA DE BOTEQUIM

A série "Moda de Botequim" a partir de agora vem de forma um pouco diferente. Além de trazer as vestimentas clássicas dos ébrios frequentadores dos botecos da cidade, fará comparações com pessoas comuns, mas que se acham estrelas só porque saem na coluna "Moda de Rua" do jornal O Globo, aos domingos. Detalhe: os fotografados desta seção do jornal sempre são da zona sul. Nunca aconteceu de aparecer a moda de rua dos pedestres de Coelho Neto, por exemplo. Por que será? Bom, acho que a pergunta é desnecessária.

A Coluna Moda de Rua trouxe-nos neste domingo a Tatiana, esta produtora de moda toda serelepe que batia perna pelo baixo Botafogo. Sobre a grife de suas vestimentas, sinceramente, nunca ouvi falar de nenhuma. Não sei nem onde se compra isso, e deve custar os olhos da cara.

Tati, minha querida, não complique seu cotidiano com marcas bestas que você não deve nem conseguir pronunciar. E além disso, tens cara de quem come sardinha e arrota caviar, deves pagar isso tudo no crediário a perder de vista. Para você, o Moda de Botequim aconselha Bidu Modas, para vestidos sociais, e Braseiro modas para moda íntima. Ambas na rua Haddock Lobo, uma do lado da outra, quase debaixo do viaduto Paulo de Frontin.



E dando uma aula de classe na Tatiana, temos o Seu Jairo, 62 anos, mecânico. Ele pousava o cotovelo num balcão vagabundo da Praça Onze na última segunda-feira. Camisa, não trajava (estava calor). Cinto de couro da marca Gury, comprado no Méier. Calça bicolor (azul atrás e preta na frente, pois está na moda) adquirida num camelô em Vilar dos Teles, a capital do jeans. Chaveiro pendurado que ganhou de brinde da Farmácia Descontão. Apesar de não aparecer na imagem, calçava um par de chinelos Katina Surf.

Objetivo, confortável e sem machucar o bolso. Siga a tendência de Seu Jairo, Tatiana, deixe de lados essas grifes que vivem dos trouxas e simplifique sua boniteza seguindo as dicas do Moda de Botequim.


Até.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

BRASEIRO MODAS

Está num pedacinho da rua Haddock Lobo, entre ruas do Matoso e Batista das Neves, uma sequência de estabelecimentos comerciais muito antigos, tradicionais e importantes para o bairro. Começando do sentido da mão dos carros, temos: Óticas Nuance, Doceria Popeye, Ervedosa materiais de construção (esta pegou fogo e agora está situada na rua Barão de Itapagipe), Floricultura Flor de Liz, Armarinho Braseiro ou Braseiro Modas, um boteco imundo, um barbeiro mais imundo, porém, há trinta anos ali, uma loja de roupas chiques para senhoras chamada Bidú e finalmente uma loja de móveis chamada "House".

Tenho neste pedaço de rua, meus caros, comércios e comerciantes que estão no meu coração. O motivo? Todos estão lá, no mesmo lugar, desde que passeava por ali no colo da minha mãe, ou antes. O bairro da Tijuca é o que é por causa disso. Passeia-se pelas ruas com a sensação de que estamos andando pela sala de nossa casa. O orgulho de ser tijucano está estampado no rosto dos transeuntes, que sempre fazem questão de mandar acenos, dar tapinhas nas costas ou largar suas sacolas de compras no chão para papear com um vizinho que acabam de encontrar. A Tijuca me dá todos os prazeres da vida, isso basta.

Hoje pela tarde dei um pulo até a Braseiro Modas, fui comprar uma bermuda. A casa está fincada ali há exatos 44 anos, ou seja, desde 1966. As roupas estão expostas em cristaleiras muito bonitas, bem altas, pois o pé-direito da casa deve ter seus seis metros. Camisetas furadinhas, camisas sociais, camisolas, meias sociais, calçolas, cintos elegantes e moda íntima em geral enchem as estantes e mostruários.

Seu Armindo e dona Célia são portugueses e tocam a casa com simpatia tijucana. Andei conversando com ele, e disse-me que ali era uma antiga farmácia antes de abrir a Braseiro. Informou-me também que muita gente veio prestigiar a inauguração, inclusive um famoso do bairro, o Tim Maia. Fiquei mais de uma hora ali e confesso que entrei no túnel do tempo. O bom homem me contou coisas preciosas da redondeza, coisas que um dia compartilharei com todos.

Comprei uma bermuda Pool e uma camiseta amarela da Hering e em troca ganhei o carinho das pessoas queridas do meu lugar.


A fachada.



Vitrine recheada.


Dona Célia ao lado dos cintos América.



Nota de 10 cruzeiros para demostrar a existência do bolso traseiro.



Seu Armindo pegando minha camiseta.



Camisolas.



Bermuda Pool.



Interior da loja.


Camisetas, meias e cuecas.

Até.
obs: Favor não reparar na qualidade das fotos. São de celular.

domingo, 24 de janeiro de 2010

CÉU DA GUANABARA

Na última sexta-feira choveu pra cacete na cidade maravilhosa, e depois do pé d'água o evento da noite estava pra acontecer. Foi o dia do concerto do Benito de Paula, na churrascaria Gaúcha, no bairro das Laranjeiras. O meu camarada Dudu Sarmento me arrumou um ingresso dos que havia ganho através do blog do Edu, e por causa disso fui ver o homem. Aproveito para agradecer ao Dudu pela gentileza. Sobre o show do Benito, só posso dizer que gostei muito, principalmente por causa das pessoas que estavam comigo. Indico a leitura deste texto escrito pelo Edu em seu BUTECO DO EDU, pois lá encontrarão detalhes sobre a bela noite que passamos.

Antes de entrar na churrascaria, marquei com o Dudu num botequim bem perto dali. Cheguei um pouco mais cedo, o bar estava cheio e fui pedindo minha cerveja. Tinha uma turma animada falando sobre um bar no centro e resolvi entrar na conversa quando estavam querendo saber o nome de uma rua. Em poucos instantes veio o Dudu, que mora bem perto dali. Foi um festa. Ele logicamente conhecia todos que estavam bebendo e por causa disso foi me apresentando a turma. Dudu puxou pelo braço um coroa na casa dos setenta e me apresentou, o senhor chamava-se Baiano. Antes, disse-me ao pé do ouvido:

- Vou te apresentar um cara que tem muitas histórias boas pra contar. Não sei se são verdade, mas também não quero saber, pois são boas de ouvir.

E logo depois de sermos apresentados o caboclo já começou a falar e falar... Falou da época de capoeirista em Salvador, de quando andava pelo porto de lá e conseguia suas calças "lee", disse que foi modelo e até mesmo fez figuração para filmes do Glauber Rocha, de quem inclusive é amigo até hoje! É, foi assim que ele disse. Mas embora nem tudo ter sido verdade, realmente era bom de ouvir. E ali ficamos mais do que devíamos, pois a cerveja fumegava e todos conversavam com todos um papo que não dava vontade de acabar. Mas o Benito nos esperava e nós estávamos ansiosos também.




Segundo o Dudu, este boteco que tem um nome muito bonito, Céu da Guanabara, é bastante respeitado na área e já está ali há muito tempo molhando o bico da rapaziada. É um pé-sujo de verdade, com seus quitutes tradicionais na estufa, tinha uma carne assada linda demais, e com uma cerveja de primeira.

Fica aqui a dica para quem passar pela rua das Laranjeiras, o bar fica quase em frente da Gaúcha.

Até.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

UM SÁBADO SUBURBANO

No primeiro domingo do ano estive na gloriosa rua Casemiro de Abreu para a inauguração de uma laje. Um camarada meu da área convidou-me para o evento. A rua inteira deu as caras, e a festa estava realmente animada. Eu fiquei impressionado com os preparativos. Teve fita vermelha para ser cortada, cerveja e comida sem miserê, piscina estilo "Toni" para quem quisesse espantar o calor, samba nas caixas de som e muito papo. Pois neste dia, meu companheiro de copo e de conversa foi o Toninho. Toninho é um português que veio para o Brasil com dois anos de idade e nunca mais voltou. Hoje tem cinqüenta e cinco. Além disso, é o maior soltador de pipas da região. Foi durante a prosa que ele me informou que no dia nove de janeiro haveria o primeiro campeonato de pipas do ano ali no bairro da Abolição. Prometi presença e mantive palavra, no último sábado estava lá.

O bairro da Abolição, assim como a maioria do subúrbio carioca, tem uma lojinha de pipas em cada rua, e a venda também é feita dentro da casa das pessoas mesmo. Eu sou perna-de-pau na arte de soltar pipas, pois aqui na minha rua o forte era a tradicional pelada no asfalto, pião e a bola de gude. Soltava-se pipa, mas eu nunca levei jeito.

Cheguei na Casimiro de Abreu um pouco atrasado, por volta das onze da manhã, mas ainda peguei parte da peleja. Tinham crianças dos cinco aos oitenta participando, e no final de tudo a barbada se confirmou, Toninho. Eu assisti tudo de dentro do bar do seu Geraldo (veja sobre ele aqui) bebendo minha gelada, pois aproveitei mais um dia para visitá-lo.

A rua estava especialmente encantadora neste dia, toda a coroada estava com suas cadeiras na calçada, os velhos com suas cervejinhas e dominó e as velhas passando tabuleiros de bolo para a criançada dizendo:

- Saco vazio não fica em pé... Venham comer!

Os moradores se conhecem há muitos anos e por conta disso deixam suas casas abertas e ficam fofocando por ali. Como há fofoca no subúrbio. A falação do dia, por exemplo, era sobre o Merenda, um gordão de uns duzentos quilos que acabou de separar-se da mulher e parece que agora só trás avião pra dentro de casa. Cochicharam também sobre o novo filhinho do Everaldo, da casa amarela, pois parece que o garoto nasceu com um dedo a mais no pé. Se perguntavam sobre a Lucia, uma vizinha de meia idade que ainda não arrumou homem. Estes temas do cotidiano são o combustível para o blá blá blá.

Eu via e escutava tudo lá do Geraldo, pois não saía dali nem por um decreto com aquele calor. A cerveja do Geraldo, meus caros, deixa pra lá. E quando estava por ali conversando com um e com outro surgiu o meu amigo Luis, que vive ali e também coleciona vitrolas como eu. Antes de nos abraçamos efusivamente já havia lhe dado um copo cheio da gelada. A primeira coisa que falou foi a seguinte:

- Me espere aqui. Vou até minha casa pegar meu novo brinquedo para você babar.

E eu, ansioso:

- Não demore, vou pedir mais uma.

Em dois ou três minutos estava ele de volta com três lps na mão de 78 rotações e uma caixinha bem pequena, mas pesadinha. Quando ele foi abrindo a caixa, me dei conta de que era uma espécie de vitrola. Ele explicou:
- Este é um gramophone portátil suíço de 1942, feito especialmente para os soldados que estavam na guerra. Está em perfeito estado, e funciona à manivela.

Porra, eu confesso que me emocionei quando vi a criança girando pela primeira vez, Que som! Ficamos ali bebendo cerveja, dando corda no aparato e escutando discos no meio da rua, em frente ao Geraldo. Os velhos se aproximaram com ares de saudade e ficavam olhando calados, com o pensamento sabe-se lá aonde. A molecada largou a traquinada de lado e também chegou para ver a nova tecnologia. Não ficavam quietos, queriam saber o que era aquilo e da onde saía a música.

Eu esqueci de todos os meus problemas neste dia. Cada vez tenho mais certeza que as coisas mais simples são as que nos dão mais prazer e felicidade. Queria muito que todos os meus amigos estivesse ali comigo vivendo o que vivi, pois são como eu e iriam se emocionar da mesma forma.

Vos deixo com um pequeno filme que fiz, em que o Luis bota a vitrolinha pra funcionar. Notem a tranquilidade da rua suburbana.




Até.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A CAVERNA DE CORDOVIL

Estive de férias alguns dias atrás e resolvi andar por aí, pelas ruas de minha cidade. Fiz pedaladas e andanças etílicas e conheci lugares interessantes.

Dia desses resolvi pegar o trem na central do Brasil e escolher uma estação para descer. Peguei o ramal Central-Vila Inhomirim, e chegando na oitava estação, que era Cordovil, larguei o trem. Andei uns três quarteirões fazendo o reconhecimento local, até que fui parar na rua Aragão Gesteira, uma rua com um campo de terra onde uma pelada rolava solta. Embora nublado, fazia um calor infernal, e logicamente que já estava pensando numa gelada. Gostei do pedaço por causa do campinho e fui catar uma bar nas proximidades. Olhei um de esquina que não me agradou, parecia uma padaria, e um pouco depois, na mesma calçada, vi um pessoal encostado numa porta fazendo um fuzuê danado. Ao entrar pela porta, meus caros, me dei conta que estava numa caverna em forma de birosca! Pensei comigo: - É aqui!!!

Uma imensa bandeira do Botafogo sobre o balcão e inúmeros pôsters do alvinegro colados na parede denunciam o time do coração de Seu Osmar, o dono da caverna. A clientela, de alta estirpe, falava de futebol e o sacaneava, pois na época o fogão ainda estava quase rebaixado. Os urros que vinham de dentro do boteco ecoavam do lado de fora chamando a atenção dos transeuntes. Eu, que entrei e pedi uma Brahma, que veio mofada, estava com a camisa do America. No primeiro instante tentaram zombar de mim por torcer pelo time tijucano, mas logo voltaram as atenções para o Osmar novamente. Coitado. Mas o homem não estava nem aí, e com um esgar sereno levava tudo na brincadeira.

Atrás dele, no altar da caverna, incontáveis garrafas de cachaça 51 estavam postas nas prateleiras. E como se bebe pinga no local, vixe Maria. Derrubei algumas Brahmas jogando conversa fora com o pessoal e nem percebi que já estava há umas três horas lá dentro. Quando anunciei que iria embora, o Rato, o grandão de casaco vermelho da foto, pediu para que esperasse cinco minutos, pois sua mulher estava trazendo uma comida. Pedi a saideira, e em pouco tempo entra a senhora do caboclo com uma bandeja enorme de empadão de galinha, que comemos até encher o bucho. É claro que solicitei mais líquido para o empadão descer.


Foi uma tarde bem agradável, e mais uma vez com pessoas que nunca havia visto antes. Isso prova que o botequim é o lar dos bons, o hospital das almas, o porto seguro dos desamparados, o exterminador de inimizades.

Até.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

CRISE BELGA NA RUA DO ROSÁRIO

Como podem ver, a coisa anda muito lenta por aqui, e deve continuar assim por algum tempo.

Hoje resolvi aparecer rapidamente para mostrar uma imagem realmente impressionante. Durante plena crise belga no querido bar Alfarabi do meu amigo Carlinhos, pude captar este momento de meditação entre os três mosqueteiros da rua do Rosário. O bar já estava fechado, e cervejas belgas, alemãs, escocesas e argentinas eram derrubadas sem dó enquanto se falava de política, amizade, futebol, música e cerveja. A cada gole era um suspiro. Pelas caixas de som se ouvia o que há de melhor do nosso samba, como Luis Carlos da Vila e o partideiro Aniceto, e muita música cubana.


Pensativos ao som de Bola de Nieve.


Carlinhos
, Simas, Alvinho Marechal e eu fizemos uma festa, estávamos em estado de graça trancafiados em plena noite de sábado na rua do Rosário.

Quando Ibrahim Ferrer soltou sua voz em Perfídia o Marecha não resistiu e començou a dançar como criança acompanhado pelo Carlos Alves.




Beber com amigos é uma das coisas mais importantes do mundo. Felizes são os homens que têm mulheres que entendem isso.

Vida longa ao Alfarabi.

Até.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MODA DE BOTEQUIM 3

A semana que entra promete ser bastante regada a líquido que passarinho não bebe. O calor se aproxima de forma violenta e as cervejas e chopps estão descendo mais fácil que água da montanha. Nossas mulheres têm que entender, é impossível deixar de marcar ponto num bar qualquer.

Foi o que fez neste fim de semana o seu Camargo. Enquanto se divertia num boteco tijucano, deliciava-se com sua dose de 51, Dreher e catuaba (vejam a bebida pousada na maquineta). Uma espécie de rabo-de-galo, mas que ele chama de susto no fígado.

Quero pedir a atenção de vocês para a bolsinha inseparável do velho boêmio da zona norte. O caboclo estava de sapato branco (lembrou-me o saudoso Jacinto Figueira Junior), bermuda de linho com um vinco impecável, camisa social branca, e a tal bolsinha. Deixou todos que estavam na birosca com uma inveja danada de sua portenta capanga.

Se alguém aparecer na novela das oito com algo parecido, já sabem que estão copiando a moda.




Boa semana.

Até.