quarta-feira, 3 de outubro de 2007

PRAZERES DA VIDA NA TIJUCA

Ser acordado bem cedo pelos raios do sol, que anunciam mais uma bela manhã de domingo. Tomar cafezinho, e ir pra rua. Ir de encontro ao meu tio, companheiro matinal, e curtir as ruas do bairro andando bem devagar por elas, somente pelo prazer de olhar as casas e as árvores. Fazemos isto tomando rumo da feira, onde compraríamos mais tarde algumas frutas e verduras. Ao sair da feira, já pelas onze da manhã, parada no bar do Chico para começar os trabalhos.





Lá encontramos os amigos de bar dos domingos, que nos ajudam a enriquecer um prosa ingênua, que deve sua existência à homens bobos e felizes por estarem ali.

Depois, já na parte da tarde, simplesmente atravessamos a rua e pedimos dois chopps e duas empadas no Salete, o histórico Salete. Ficamos quase uma hora conversando em pé do lado de fora, e meia dúzia de chopps depois, resolvemos entrar para almoçar um risoto, carro-chefe da casa.





A casa estava cheia, e as simples pessoas e famílias presentes encontravam-se felizes e sorridentes.



É o retrato de um bairro nobre, tenho orgulho de morar aqui desde que existo, há mais de três décadas.

Até.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

LUTO

Encontro-me de luto, brutalmente entristecido, isto porque um pedaço de mim acaba de morrer. Fechou nesta semana minha querida Uisqueria Bico Doce, recanto de momentos inesquecíveis, onde se encontravam amigos de uma vida inteira quase todos os dias. Situada no carioquíssimo Beco das Cancelas, e com cento e doze anos de idade, virou referência para quem gosta de uísque, de boa conversa, e simplesmente, de viver nossa cidade. Lá se falava de música e poesia, e também se fazia música e poesia, histórias do Rio eram relembradas com um enorme sentimento nostálgico, chorava-se e sorria-se sempre ao lado dos fiéis amigos e copos de boca larga.

Meu grande camarada Fernando Pinheiro ligou-me na última sexta, para me alertar do problema passado pelo comandante da casa, nosso querido Cabral. Juntamos o pessoal da confraria ontem para ver se conseguíamos ajudar de alguma forma, como se fosse o último suspiro. Mas infelizmente não foi possível manter as portas abertas, deixando mais taciturno aquele tradicional beco do centro da cidade.

Tem gente como o Fernando, que frequenta a casa há uns trinta anos, que está abatida, pois passavam por lá todos os dias, talvez com mais tempo de Bico Doce do que a própria casa.

Nossa vontade para a uisqueria ficar aberta é tanta, que ela acaba se tornando numa lírica esperança de que sempre haja um jeito, um final feliz.

Torcemos que o próximo a pegar o local, seja uma pessoa rara, e mantenha viva esta história centenária, para que os velhos e os novos amigos voltem a brindar por momentos únicos da vida.

Seguem algumas memórias que foram eternizadas em nossa querida casa:





domingo, 5 de agosto de 2007

INSISTO NOS DOMINGOS

Sim, insisto. Ultimamente este dia da semana está acontecendo de forma exagerada na minha vida. Tudo acontece, e de melhor. O problema é que no final do dia fico praticamente estragado, por isso as palavras são escassas. Simplificarei aqui os momentos vividos hoje para que tenham noção da grandiosidade dos domingos que tenho passado.

O de hoje iniciou-se às sete e quarenta na Praça XV, junto com o Rodrigo Ferrari, meu irmão mais velho. Esperávamos o Fraga para irmos de bicicleta até um destino maravilhoso, a Fortaleza de Santa Cruz. Perdemos a barca das oito porque o pneu da bicicleta do Fraga furou em Botafogo, mas meia hora depois tomamos o rumo da terra de Araribóia. Foi uma pedalada forte e contra o vento até o lugar desejado, mas a paisagem tornou o passeio impagável. A volta foi mais devagar, paramos em Jurujuba no bar no seu Roberto, bebemos meia dúzia de ampolas, como diz o Fraga, e ainda tivemos o privilégio de beber a saideira com o Hélio, camarada que pedala pra caceta pelo estado inteiro.





Neste mesmo bar ligamos para o Simas, brindamos para o Simas, e marcamos de encontrar o Simas no mercado de São Pedro. Estava com seu pessoal todo, inclusive com seu compadre Claudio e com a Clarinha. Sobre a comida só vendo pra crer. Camarão pacas, namorado pacas, enfim, comida pacas.






Pegamos a barca das duas e meia de volta para o Rio e fomos cada um para o seu lado. Antes porém, fiquei de encontrar-me à noite com o Rodrigo na estréia da roda de samba do Pratinha no Estephanio´s. Era a certeza de um fechamento que coroaria mais um domingo estupendo. E para completar este dia que me surpreende a cada semana, somaram-se a nós o Edu, a Dani, a Betinha, o Flavinho, o Simas, a Helô estava também, o Prata (lógico), o Fernando (que vai pedalar conosco na próxima), e vários outros que viveram este dia anormal.




Foram poucas palavras, mas sinceras e suficientes para retratar um dia que valeu por sete. Peço desculpas pela pobreza nos detalhes, mas o cansaço está me vencendo com uma covardia impiedosa.

Quem viveu é sortudo e sabe, e quem não viveu imagina e depois sonha.

Até.

domingo, 29 de julho de 2007

TARDE FRIA

Provavelmente a tarde mais fria do ano. O vento gelado e cortante nos fez esquecer que vivemos no Rio de Janeiro. Pela manhã cada um no seu canto, debaixo das cobertas e com medo da temperatura que dominava o dia no exterior dos aconchegantes lares.

No início da tarde falei com Rodrigo Folha Seca e o Simas, na tentativa de nos encontrarmos para ver o jogo no Joaquim e espantar a friaca com doses de maracujá. Simas topou na hora, e Digão, que estava com seu filhote Miguel, andava preguiçoso, mas resolveu dar as caras também.



Cervejas foram poucas, porém os maracujás acabaram logo. O Joaquim ficou sob pressão boa parte da tarde para que outra leva desse maravilhoso calmante fosse logo preparada. Enquanto isso, o jogo de futebol de prego comeu solto, juntamente com a purrinha e a zarabatana. Sim zarabatana! Semana passada disputou-se um mini campeonato de botão no Rio-Brasília, e hoje um de zarabatana, que foi vencido pelo Miguel. Eu tentei mas não deu, o Digão nem tentou, e o Simas não leva jeito nenhum, como pode-se conferir no vídeo abaixo:



Como estava passando o jogo do Flamengo na televisão, lembramos do querido Edu, que se encontrava em Pouso de Cajaíba, e ligamos pra ele:

- Faaaaaaaaaaaaala Edu! Só estou te ligando para dizer que estamos todos vendo o jogo no Joaquim e pensamos em você. Tá um frio anormal...

A resposta:

- Estarei presente para o segundo tempo.

Ficamos todos surpresos pois pensávamos que Edu voltaria somente na segunda. E acho mesmo que ficamos sem acreditar. Bom, esquecemos o assunto.

Os maracujás apareceram, e nossos corpos que já se encontravam frios se esquentaram e ficaram confortáveis naquele recanto da Tijuca. A chuva que parara minutos atrás teimou em voltar para ajudar a desenhar um dia daqueles. Rodadas de purrinha e futebol de prego voltaram à mesa para matar qualquer possível desânimo, e ainda por cima o Flamengo acabara de empatar uma partida praticamente perdida com o Corinthians, e o meu América acabara de vencer o Guarani, notícia que aguardava ansioso de ouvido colado no rádio.

O dia que já virava noite estava praticamente morto, quando aos quarenta e cinco do segundo tempo dobra a esquina um cara que honra com a palavra, Edu Goldenberg. E não é que o cara apareceu! Conversas foram reiniciadas, novas rodadas vieram para a mesa, e aquele mínimo buraco tijucano tomado por um frio polar jamais visto, foi palco de um momento, nunca pensem que é o mesmo, que sempre surpreende por ser mais intenso a cada dia que passa.


E o dia ainda acabou com Digão me ligando para escutar "Adios Nonino" do Piazzolla via telefone. E o pior foi que eu retornei a ligação para ele ouvir a mesma música.

Coisa de maluco.

domingo, 15 de julho de 2007

IMAGENS DE UM DOMINGO

Camaradas, estou completamente sem condições de escrever algo. Este momento de minha vida se resume apenas em algumas emocionantes imagens. Imagens que falam mais do que minhas insignificantes palavras. Quem viveu sabe do que se trata.

Almoço.


O filho e o pai.


O americano perdedor...


...erguendo o braço do sempre vencedor.


Vieram outros e até apostaram.


Barbada!


O templo.


Felicidade de um campeão.


Companheiras de mesa.


Brasil 3 x 0 Argentina.


Esse de vermelho ganhou, mas o menino deixou.


Mofada.


A turma.


Mais de perto.


Até e beijos a todos.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

CANTINHO DOS AMIGOS

Na semana passada, precisamente na quinta - Corpus Christi - resolvi dar uma pedalada pelas redondezas de meu querido bairro, sem rumo, apenas para distrair a monotonia e quiçá engrandecer o meu destino pelo caminho. Tinha tricolor pacas nas ruas por causa do título da Copa do Brasil (faziam 23 anos...) dando de certa forma um ar de alegria em cada esquina. Os botecos estavam cheios, e assunto não faltava naquela ensolarada manhã.

Andava com minha caloi 10 datada de 1979 pela rua Barão de Mesquita quando por acaso fiquei defronte a um interessante pé sujo que estava cheio de gente, uns jogando dominó numa mesa da calçada, outros em pé com seus copos na mão observando a calorosa partida, e os demais lá dentro sentados. O nome da casa faz jus aos fregueses, Cantinho dos Amigos.


Cantinho dos Amigos

Uma canção familiar sonava por ali, e somente quando me cheguei à beira do balcão para pedir uma garrafa - capa branca - ao Chiquinho, percebi que vinha de um radio toca-fitas muquirana, velho e lindo para caceta, que tocava através de seus humildes falantes a música Chore Comigo, e a voz era do singular Nelson Gonçalves, um de meus preferidos. Pouco tempo atrás, na coluna BOLACHA DA VEZ aqui do Boemia & Nostalgia, falei sobre um disco dele e disponibilizei exatamente esta faixa para a audição.

Um pouco depois chegou meu camarada Murillo, torcedor do América, e ficamos por ali por mais algum tempo, pude então olhar alguns quitutes do local, como a porção de moela refogada no alho e língua com cebola e pimentão.

Ao marchar, veio comigo a certeza de que voltarei, simplesmente por se tratar de um botequim honesto, e que tem o seu valor. Resolvi neste momento começar a empreitada de realizar um censo dos botecos da região, incluindo até as menores portinhas. Vai ser bacana.

Fiz ainda uma pequena parada no bar do Chico, velho conhecido da patota da área, como Simas e Edu Goldenberg, que sempre param por ali depois da feira dominical, e Vicente, um coroa ex-vizinho meu, boa praça. Murillo, taxista que nunca leva passageiro, eu nunca vi, inicia neste bar o que ele chama de círculo vicioso. Começa no bar do Chico, passa pelo bar Pink, Columbinha, e termina no Joaquim. Depois reinicia o trajeto quando pode, sempre pagando cerveja para os amigos e vice-versa. É um figura do nosso cotidiano.


Murillo no bar do Chico


Até o próximo bar.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

ARMAZÉM SENADO - 100 ANOS

Conversando ontem com o Fernando, meu chapa e um dos donos de uma relíquia chamada Armazém Senado, tive a feliz notícia de que a festa em homenagem ao centenário da casa, eu disse CEM anos, será finalmente realizada em julho. Para quem não conhece, este canto nostálgico fica na esquina de Gomes Freire com Senado, bem no centro da cidade maravilhosa, e quando você entra é amor ao primeiro gole. Dentro deste pé direito de 6 metros você pode apreciar Brahma Extra, Bohemia, Original, Brahma... Sempre no calibre.



São vários os prazeres que logramos no local além de beber com os camaradas, listarei alguns:

- É muito bom debruçar os cotovelos no larguíssimo balcão de mármore enquanto se aprecia os velhos sobrados da área.

- Ficar olhando o velho Antônio, dono, do tempo do lá vai fumaça, pai de Henrique e Fernando, manusear os produtos do Armazém que são vendidos à granel só para o dia passar...

- Brincar com o eterno gato da casa, o bichano pede logo carinho quando você levanta o dedo por uma gelada.

- Conversar com os fregueses do bar também centenários. Saldanha, seu Orlando, tia Cida, tia Joana, o velho cantor. É cada causo de dar inveja do passado que não vivi.

- Ficar bebendo e olhando para os produtos que estão à venda e expostos naquelas imensas prateleiras: sandálias havaianas, caixas de maizena, potes de aveia, lustra móveis, um lustrador de pratas das antigas, latas de salsicha, macarrão, farinha, achocolatado Behring (o da caixa amarela), cachaça pra cacete, e várias outras miudezas que fogem-me da memória no momento. Ah, e sobre a porta do banheiro feminino repousa pendurado um serrote?!? Deve ser alguma mandinga...

- Se por acaso o lugar estiver cheio, ou se estiver vazio também, você pode ficar do lado dentro do balcão, sentado ou em pé.

- De comer não há variedade, praticamente frios, azeitonas de saquinho e tremoços. Delícia! Mas, se quiseres pode levar comida de casa, entrar na cozinha e fazer seu tira gosto sem problemas.

- Outra coisa importante é que o seu Antônio é América, tem até um relógio de parede em cima da porta da despensa.

- Todo o primeiro sábado do mês o Fernando coloca uma vitrola para que os fregueses levem seus discos e apreciem suas canções favoritas do passado.

Dando uma pausa nesta listagem aproveito para ressaltar este último item. Muitos sabem que coleciono lps, e por isso sempre estou neste sábado no Armazém. Quando eu chego com minha bolsa de vinis os coroas hurram de alegria. É um imenso benefício para o meu interior fazer com que aquelas pessoas se relembrem das velhas canções, teve gente que já pediu para que eu parasse pois era muito para seu coração. É Cartola, Vinicius, Altemar Dutra, Dolores, Dalva, Noel, Jamela, Nelson Gonçalves (com este o pessoal pira), Moreira da Silva, Anísio Silva, Nelson Cavaquinho, Baden, Paulinho da Viola, Geraldo Pereira... E por aí vai.



Um dia estávamos preparando a vitrola e chegou um senhor negro meio cabisbaixo, pousou-se no balcão e pediu sua cerveja. Após a música começar, puxei uma prosa com ele, seu Abreu, gente finíssima. Estava com problemas em casa e faria aquela parada no bar antes de almoçar com sua irmã como combinado. Em certo momento, aquele homem percebeu que estava sendo querido por pessoas que nunca tinha visto em sua longa vida. Interagiu conosco, abriu um sorriso e disse-me:

- Vocês estão me fazendo lembrar da felicidade por um instante...

Bicho, deu aquele nó na garganta, foi foda. Mas ao mesmo tempo pensei comigo que é por isso que estes lugares existem, para unir pessoas que precisam de outras, gerando assim este sentimento de afeto que está cada vez mais raro, porém sempre encontrado nos verdadeiros botequins. Parte dessa nossa cultura que estão querendo acabar... Coisa da "canalha" como diz o Edu.

Quando a voz de Jamelão bradou pelas humildes caixas de som do local, seu Abreu deu um pulo surpreso e voltou-me com mais palavras:

- Assim já é demais, faz tempo que não ouço Jamelão, já toquei pandeiro com ele em décadas passadas, adoro sua voz.

Em seguida pegou seu telefone para uma ligação, ele simplesmente cancelou o almoço com a irmã e pediu uma porção de mortadela para o Henrique, e ainda dividiu com os novos companheiros. É ou não é único este momento?



No dia da celebração do centenário, um grupo de samba de raíz de amigos da casa vai tocar, eu vou estar presente, assim como várias figuras amantes deste local e destes costumes. Convidei o trio de camaradas Edu Goldemberg , Szegeri, e Simas, que disseram que aparecerão por lá, e uma turma da antiga rádio Nacional também vai.

Será um momento de resistência para nossa cidade cada vez mais abandonada, assim que souber a data precisa estarei informando. Quem puder apareça por lá.

Abraço.