Mostrando postagens com marcador Armazén Senado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Armazén Senado. Mostrar todas as postagens

sábado, 19 de janeiro de 2013

DE VOLTA, E COM O ARMAZÉM.

Voltando hoje depois de um tempo parado. Muita coisa aconteceu neste período de inatividade, mas o que importa é que a casa está reaberta. Tenho visitado alguns bares que já conheço e sou freguês há anos, como   lugares importantes no cenário pé-sujo carioca que ainda não havia tido o prazer de pisar. Vamos com calma, aos poucos entramos em velocidade cruzeiro citando estes locais e dividindo com todos as belas experiências etílicas de nossa cidade

Dia desses, poucos atrás, retornei ao Armazém Senado, local que já mencionei aqui e aqui. Meu irmão Arthur Favela, paulista, toda vez que vem ao Rio pede para irmos lá, e como ele pintou por aqui junto com o Danilo, outro chapa, fomos num sábado bem cedo. O bar, ainda bem, continua a mesma coisa, diria até que mais bacana. Falo isso porque vivemos uma onda de modernização que não tá no gibi, e quem perde com isso é a freguesia. Não posso negar que ainda estou muito preocupado com a absurda construção dos espigões da Petrobrás ali na Senado com Inválidos. O bar do Seu Davi foi pro saco, a igreja de Santo Antônio dos Pobres tá interditada com rachaduras e meio quarteirão de casarios históricos foi demolido. O Armazém Senado resiste, destoa do que está acontecendo ali, e isso graças aos donos. Foi recentemente tombado pelo alcaide, o que não deixa de ser uma boa notícia, se bem que a cobertura do falecido estádio Maracanã também era tombado e... Há preocupação.










Bom, voltemos ao sábado pela manhã. Às 10 horas cheguei e prontamente abri os trabalhos. Estava biritando no balcão, aguardando Favela e Danilo, e um coroa passou com uma garrafa de cachaça chamada São Paulo. Fiquei mirando e ele então me ofereceu uma dose, pois a garrafa era dele, acabara de comprar no próprio Armazém. Foi uma grande descoberta, cachaça pernambucana, boa companheira para a cerveja. Resultou que não resisti e tive que levar uma pra casa também. Proseava com o senhor e logo chegaram os dois caboclos. Bebemos com vontade, para matar a saudade, e beliscamos salaminhos e azeitonas. Minha garrafa de São Paulo ficou pela metade, diga-se de passagem. 

O legal do Armazém é que ele tem fregueses muito fiéis, então você sempre conhece alguém, sendo assim a conversa que é de um acaba virando de todos.  Samba das antigas saía pelas caixas de som, o que nos deitava ainda mais no balcão de mármore de 105 anos. O que me deixa feliz cada vez que vou ao Armazém Senado é como o Fernando e Henrique cuidam da casa. Colocaram os vidros antigos cheio de detalhes, preservam o balcão histórico, têm vinhos da melhor qualidade na carta, cachaças de vários rótulos nas prateleiras, fotos antigas nas paredes... Tudo isso sob o olhar atento do Seu Antônio, pai dos dois, velha guarda e boa praça.








Com mais esta visita, posso afirmar tranquilamente que o Armazém Senado ainda é um lugar aonde se vive o Rio de Janeiro da forma mais bonita, onde o dia passa e não se percebe. Bebe-se como antigamente.

Até

quinta-feira, 31 de maio de 2007

ARMAZÉM SENADO - 100 ANOS

Conversando ontem com o Fernando, meu chapa e um dos donos de uma relíquia chamada Armazém Senado, tive a feliz notícia de que a festa em homenagem ao centenário da casa, eu disse CEM anos, será finalmente realizada em julho. Para quem não conhece, este canto nostálgico fica na esquina de Gomes Freire com Senado, bem no centro da cidade maravilhosa, e quando você entra é amor ao primeiro gole. Dentro deste pé direito de 6 metros você pode apreciar Brahma Extra, Bohemia, Original, Brahma... Sempre no calibre.



São vários os prazeres que logramos no local além de beber com os camaradas, listarei alguns:

- É muito bom debruçar os cotovelos no larguíssimo balcão de mármore enquanto se aprecia os velhos sobrados da área.

- Ficar olhando o velho Antônio, dono, do tempo do lá vai fumaça, pai de Henrique e Fernando, manusear os produtos do Armazém que são vendidos à granel só para o dia passar...

- Brincar com o eterno gato da casa, o bichano pede logo carinho quando você levanta o dedo por uma gelada.

- Conversar com os fregueses do bar também centenários. Saldanha, seu Orlando, tia Cida, tia Joana, o velho cantor. É cada causo de dar inveja do passado que não vivi.

- Ficar bebendo e olhando para os produtos que estão à venda e expostos naquelas imensas prateleiras: sandálias havaianas, caixas de maizena, potes de aveia, lustra móveis, um lustrador de pratas das antigas, latas de salsicha, macarrão, farinha, achocolatado Behring (o da caixa amarela), cachaça pra cacete, e várias outras miudezas que fogem-me da memória no momento. Ah, e sobre a porta do banheiro feminino repousa pendurado um serrote?!? Deve ser alguma mandinga...

- Se por acaso o lugar estiver cheio, ou se estiver vazio também, você pode ficar do lado dentro do balcão, sentado ou em pé.

- De comer não há variedade, praticamente frios, azeitonas de saquinho e tremoços. Delícia! Mas, se quiseres pode levar comida de casa, entrar na cozinha e fazer seu tira gosto sem problemas.

- Outra coisa importante é que o seu Antônio é América, tem até um relógio de parede em cima da porta da despensa.

- Todo o primeiro sábado do mês o Fernando coloca uma vitrola para que os fregueses levem seus discos e apreciem suas canções favoritas do passado.

Dando uma pausa nesta listagem aproveito para ressaltar este último item. Muitos sabem que coleciono lps, e por isso sempre estou neste sábado no Armazém. Quando eu chego com minha bolsa de vinis os coroas hurram de alegria. É um imenso benefício para o meu interior fazer com que aquelas pessoas se relembrem das velhas canções, teve gente que já pediu para que eu parasse pois era muito para seu coração. É Cartola, Vinicius, Altemar Dutra, Dolores, Dalva, Noel, Jamela, Nelson Gonçalves (com este o pessoal pira), Moreira da Silva, Anísio Silva, Nelson Cavaquinho, Baden, Paulinho da Viola, Geraldo Pereira... E por aí vai.



Um dia estávamos preparando a vitrola e chegou um senhor negro meio cabisbaixo, pousou-se no balcão e pediu sua cerveja. Após a música começar, puxei uma prosa com ele, seu Abreu, gente finíssima. Estava com problemas em casa e faria aquela parada no bar antes de almoçar com sua irmã como combinado. Em certo momento, aquele homem percebeu que estava sendo querido por pessoas que nunca tinha visto em sua longa vida. Interagiu conosco, abriu um sorriso e disse-me:

- Vocês estão me fazendo lembrar da felicidade por um instante...

Bicho, deu aquele nó na garganta, foi foda. Mas ao mesmo tempo pensei comigo que é por isso que estes lugares existem, para unir pessoas que precisam de outras, gerando assim este sentimento de afeto que está cada vez mais raro, porém sempre encontrado nos verdadeiros botequins. Parte dessa nossa cultura que estão querendo acabar... Coisa da "canalha" como diz o Edu.

Quando a voz de Jamelão bradou pelas humildes caixas de som do local, seu Abreu deu um pulo surpreso e voltou-me com mais palavras:

- Assim já é demais, faz tempo que não ouço Jamelão, já toquei pandeiro com ele em décadas passadas, adoro sua voz.

Em seguida pegou seu telefone para uma ligação, ele simplesmente cancelou o almoço com a irmã e pediu uma porção de mortadela para o Henrique, e ainda dividiu com os novos companheiros. É ou não é único este momento?



No dia da celebração do centenário, um grupo de samba de raíz de amigos da casa vai tocar, eu vou estar presente, assim como várias figuras amantes deste local e destes costumes. Convidei o trio de camaradas Edu Goldemberg , Szegeri, e Simas, que disseram que aparecerão por lá, e uma turma da antiga rádio Nacional também vai.

Será um momento de resistência para nossa cidade cada vez mais abandonada, assim que souber a data precisa estarei informando. Quem puder apareça por lá.

Abraço.

domingo, 4 de março de 2007

ARMAZÉM SENADO

Como é bom estar no Armazém Senado! Pé direito de cinco metros de altura e um velho e largo balcão de mármore. Lugar de 100 anos de boemia, aliás, já estou convidado para a comemoração desta data em abril. Comanda este patrimônio seu Antônio e os dois filhos, Fernando e Henrique, pessoal boa praça, das antigas. Neste velho armazém encontramos um pouco de tudo: sandálias havaianas, milho a granel, salsicha em lata, lustra móveis, Nescau, vassoura, e logicamente, uma cerveja capa branca no copo Nadir Figueiredo, mais conhecido como americano. De comer não há variedades, somente frios. Agora, pra quem é da casa o seu Antônio libera a cozinha para que possamos fazer comida, exatamente assim, pode acreditar.


Passei lá neste sábado com minha senhora (Heloisa), minha irmã (Nathalia) e meu cunhado e irmão (André), os camaradas já estavam presentes e quando cheguei o Mendonça foi logo me dizendo onde estavam os discos:

- Fala Felipe, comprei esta caixa com uns 100 vinis. Fica à vontade e bota pra quebrar.
Explicando. Todo o primeiro sábado do mês o Fernando coloca uma vitrola para que os clientes possam levar seus discos e escutá-los. Tem gente que já deixa os lps num canto do armazém pro outro mês. Como eu coleciono discos, gosto de ficar comandando a vitrola e então virei uma espécie de dj do pessoal. O som é sempre nostálgico, como Cartola, Elizeth, Chico, Nelson Cavaquinho, Jorge Aragão, Anisio Silva, Sinatra...




E assim vai. Com uma Brahma sempre gelada no copo, estava conversando com a Helô e a Nath quando veio até a minha pessoa um senhor que estava bebendo no balcão ao nosso lado:

- Você gosta de música?

- Sim, gosto.

- Eu toco violão há 40 anos, sou solista. Mas minha profissão é engenheiro de tubulações e civil. Estou aqui com a minha viola de 1962. Quer ver?

O cara era a maior figura, o violão dele era realmente antigo e bem cuidado. Ele ficou me explicando coisas de música, sustenido, notas... E até deu uma palhinha pra nós. É aquele tipo de cara que parece que tá na merda por que a família o largou, ou vice-versa. Depois de muita conversa, seu Oscar, que pediu para o chamássemos só de Oscar, nos contou que mora "sozinho" na Gomes Freire porque tinha se divorciado da mulher, mas que de vez em quando vê os netos. E por umas quatro ou cinco vezes, já depois de tomar algumas, falou com ar de saudades que ainda gostava de sua ex-esposa. Demos tanta atenção pro cara que ele falou que estava muito feliz de estar conosco e me deu um cartãozinho da firma dele para ligarmos no caso de querermos aprender violão. Coroa gente fina, um bom exemplo de boemia e nostalgia.




Oscar, eu e André


Quando ele foi embora me juntei ao André, que conversava com o Ronaldo, um companheiro de copo. Falávamos de como o mundo de hoje está perdido e a conversa foi boa porque o cara é radical que nem eu, acreditando que não existe tempo como o de antes. O André falou rindo pra caramba:

- Pô Felipe pensei que só você era assim meio radical, mas tô vendo que tem mais gente...

E Ronaldo nos contando como conheceu Nelson Cavaquinho, Monarco, Nelson Sargento, e outros da velha guarda. Convidou-nos para irmos um dia na Mangueira conhecer o pessoal. O Nelson Cavaquinho ele diz que conheceu num bordel quando era novo, e que sua avó que lhe deu o dinheiro para conhecer os prazeres da vida. Outra figura, outro gente fina.


Nessa altura do campeonato Heloisa e Nathalia tinham ido dar uma passada na feira do rio antigo que tem todo mês na rua do Lavradio, um pouco depois resolvi dar olhada também e procurá-las. O André ficou conversando com o Ronaldo. A feira estava cheia, várias barracas com coisas antigas bem legais, incluindo muitos vinis. Tinham dois grupos de música se apresentado na feira, um de tango e outro de choro, este último com a filha do saudoso Rafael Rebelo no cavaquinho. Andava por ali até me deparar diante do velho cortiço da rua do Lavradio, primeiro endereço da minha família espanhola no Brasil na década de 50. A fachada é muito bonita, mas está degradada pelo tempo e por um incêndio que há dois anos danificou mais ainda o lugar. E como os filhos da puta que governam o país cagam pra tudo o que é história, não tenho muitas esperanças de que vai ser reformado. Entrei no cortiço, ainda há pessoas morando ali, tirei várias fotos e depois fiquei olhando o local, me deu a maior emoção, confesso que cheguei a chorar. Saí dali e encontrei as duas que perceberam que estava com olhos vermelhos e eu contei o motivo.


Helô e Nath

Fachada do Cortiço


Voltamos para o Armazém e o pessoal tinha quase todo ido embora, é que sábado fecha cedo. André ainda bebia com o Ronaldo e então pedimos a saideira pois Fernando tinha começado o ritual de lavar os pés dos fregueses. Como é bom fechar um bar, ainda mais se tratando deste lugar especial.


Fomos embora e andamos juntos até a rua do Lavradio. André me chamou atenção para um senhor encostado do lado de fora de um bar, ele parecia ser de outra época. Perguntei-lhe seu nome e logo depois se poderia tirar uma foto dele:

- Meu nome é Lepoldo. Pode tirar a foto, mas deixa eu largar o copo senão vou pensar que sou cachaceiro.

Eu disse que não tinha problema, só não tinha como sair dali sem uma foto dele. vejam a figura logo abaixo, o que acham?

Leopoldo

Depois disso André e Nathalia foram para Copacabana, bairro do André, e eu pra casa com a Heloisa. Quando estávamos na Men de Sá, perto do ponto de ônibus, resolvemos passar no Capela para comer algo e tomar outra saideira, desta vez chopp. Caldeireta com muito colarinho, do jeito que eu gosto, muito bom. Seu Aires (um dos donos) passava por ali e fui falar com ele. Falamos de El Faro, Caneco 70, Caneco 2, de meus tios e pais, e da Galicia também.


Eu e seu Aires

Dia de vários momentos e conversas com pessoas sempre especiais. Temos que aproveitar e dar valor aos belos momentos da vida pois eles estão cada vez mais difíceis de acontecer, e quando acontecem temos que desfrutar e agradecer.


Até outro momento.